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Votar no PT por quê?
Laerte Braga
O chamado voto útil, ruim com Lula pior sem ele, não serve como razão para votar
em candidatos petistas nas eleições municipais. Por um motivo muito simples: não
há diferença entre o projeto de Lula e o de FHC, naquilo que representam. Só de
estilo, de vaidades e ambições. Servem ao mesmo senhor.
A decisão do Supremo Tribunal Federal validando a taxação dos inativos e
pensionistas é imoral. Ministros que votaram contra nas duas vezes que o governo
anterior propôs o referido desconto mudaram de voto e não tiveram o menor
escrúpulo em se explicar, ou simplesmente, não se explicaram.
Um deles, dos mais novos, quando da aprovação da emenda chegou a publicar artigo
na imprensa contra a taxação. Nomeado ministro votou a favor.
Não existe saída para a situação brasileira dentro das regras do jogo
institucional. O que deveria ser a alternativa se mostra, cada dia mais, igual a
qualquer outro. Collor, Lula, Sarney, Itamar, FHC, todos iguais e governados
pelo FMI.
Uma das chamadas grandes revistas semanais brasileira, a ISTO É, trouxe à tona
um debate que ilustra e define o que sejam o PT de Lula e o PSDB de FHC. Falo da
armação contra o ex-deputado Ibsen Pinheiro, do PMDB, pouco antes das eleições
de 1994.
PT e PSDB são dois partidos paulistas. Isso não significa ser contra São Paulo,
significa que o horizonte de petistas e tucanos começa e termina em São Paulo.
Em 1993, quando Itamar pensava que era o presidente e FHC tocava o barco do
jeito que bem entendia, Ibsen Pinheiro era um dos nomes do PMDB, ele e o
ex-governador do Rio Grande do Sul, Antônio Brito, na disputa das eleições
presidenciais. Ibsen tinha sido presidente da Câmara no processo de impedimento
de Collor de Mello e conquistado projeção nacional.
Antônio Brito, produto do acaso, seria fácil, como foi, domar. Restou candidato
ao governo do seu Estado e, ave de vôo rasteiro, é mera lembrança, sumiu do mapa
político, fato previsível diante de sua insignificância. Quinze minutos de
glória. Da morte de Tancredo ao governo do Estado.
O processo de construção da candidatura de FHC começou logo após a eleição de
Orestes Quércia, para o governo de São Paulo, em 1986. Com o argumento que o
PMDB estava se desviando de seus propósitos e virando à direita, Mário Covas,
Franco Montoro, FHC, José Serra e outros fundaram o Partido da Social Democracia
Brasileira.
Nas eleições presidenciais de 1999 o partido optou por sua liderança natural,
Mário Covas. Registre-se que sempre houve diferenças nas posições de Covas e FHC.
Ficou com Lula no segundo turno por decisão de Covas e por falta de alternativa.
Eleito presidente o alagoano, FHC, por intermediários, fez o mesmo que havia
feito quando Tancredo, em 1984, venceu Paulo Maluf nas últimas eleições
indiretas para presidente. Ofereceu seus serviços de intelectual com prestígio
internacional para o ministério.
Tancredo recusou, pois tinha ojeriza de FHC e deixou isso claro em várias
oportunidades, publicamente inclusive. Collor sequer cogitou no primeiro
momento. Quando do início do processo de cassação do seu mandato, impedimento,
tentou nomear o então senador tucano como espécie de superministro para salvar o
barco FHC aceitou e foi impedido de assumir o cargo pela reação de Mário Covas (fato
que não perdoou nunca).
Itamar presidente, FHC ministro. Num dado momento, dono do governo. Há um
episódio que bem ilustra isso: quando da elaboração do plano real, disseram ao
ministro da Fazenda, o próprio FHC, que o presidente deveria criar obstáculos e
a resposta foi simples: "toquem o barco, deixem o Itamar por minha conta".
FHC virou candidato ao longo de toda essa história.
O PT de Lula, paralelamente, corria na mesma direção: um projeto político capaz
de viabilizar o líder sindical para o governo da República. Se, a primeira
candidatura teve nítido compromisso popular, a de 1994 já assumiu a feição de
docilidade que se verifica agora que é presidente.
Correram na mesma direção, FHC e Lula, no horizonte político de São Paulo,
espargindo ambições e projetos que não eram diferentes, mas de grupos, ocupando
os espaços que se lhes restavam. Um na posição de centro-esquerda, outro na de
esquerda, ambas para inglês ver. Pró forma.
Ibsen pagou o pato. Foi pego pelo pé num processo que tanto envolveu Valdomiro
Diniz, que já havia sido decisivo nos bastidores da cassação de Collor, como nos
levantamentos sobre o deputado gaúcho, como tucanos. Não é bem o que diz a
revista, mas foi clássica armação contra quem poderia dificultar o caminho
tucano à presidência. Esse tipo de jogadinha é bem a cara de Itamar e FHC, duas
primas donas. Serra fez isso com Roseana Sarney, com Ciro Gomes e agora repete
com Marta.
PT e PSDB têm os mesmos propósitos, os mesmo objetivos. A disputa não é em torno
de projetos de governo, mas de quem vai sentar no trono.
Quem de fato governa, quem de fato manda, é o FMI.
As forças populares enfrentam hoje o dilema de não terem alternativa dentro do
espaço institucional. Não há saída. Jogam um jogo de faz de conta.
A decisão do STF sobre a contribuição de inativos e pensionistas chancela essa
opinião.
Ao contrário do jogo do bicho, onde os banqueiros se responsabilizam pelo que
está escrito, no jogo de poder o que foi escrito ou defendido é esquecido ou
jogado fora sem problema algum.
Votar no PT para quê? É o mesmo que votar no PSDB. Ou no resto. Vem a reboque.
A luta passa por outros caminhos.